sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Suspeita cumplicidade - ES

São atitudes como as dos deputados Eustáquio de Freitas (PSB) e Atayde Armani (DEM) que contribuem para a impunidade dos crimes cometidos contra os quilombolas, para atender aos interesses da ex-Aracruz Celulose (Fibria). A campanha liderada por eles faz coro às conhecidas tentativas de criminalizar a luta dos negros pela recuperação das terras que lhes pertencem, por direito. Ao desconhecerem a existência dos verdadeiros quilombolas, os parlamentares protagonizam mais um episódio de desrespeito àqueles que ajudaram a construir a História do Espírito Santo. No mínimo, lamentável.

As declarações, em especial do deputado Freitas, são dignas de quem ignora como se deu o processo de ocupação do território, cujas terras foram usurpadas em sua maioria pela Aracruz Celulose, mas onde também há fazendeiros, posseiros e grandes produtores.

O deputado tem usado não só a Assembleia Legislativa, mas também a rádio do município - que pertence ao ex-prefeito Lauriano Zancanela – para fortalecer seu movimento contra o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e os descendentes de escravos.
Em suas constantes falas, aponta que a “a população rural vive em constante instabilidade, temendo a desapropriação e a invasão de terras pelos quilombolas”. E que – pasmem! - “talvez tenha ocorrido uma grande injustiça com os negros neste país e no município de São Mateus, mas é preciso critério”. Comportamento que se agrava ainda mais quando se trata de um deputado da própria região.

Em seus pronunciamentos, Freitas já deu mais de uma prova de que advoga em favor do Movimento Paz no Campo (MPC), criado exatamente para tentar impedir a titulação do território quilombola no norte do Estado. Contra a entidade pesam várias denúncias de preconceito contra os negros, sem falar em violência, ameaças de morte e coação. Com apoio, obviamente, da polícia armada da ex-Aracruz Celulose.
Para consolidar o que já vêm fazendo desde que o Incra reconheceu o território quilombola de São Cristóvão/Serraria, em novembro último, os deputados providenciaram uma audiência pública em São Mateus, na noite desta quinta-feira (10). Tamanha é a falta de interesse em promover um debate democrático que não convidaram os quilombolas.

É preciso ficar claro: o processo de instalação da transnacional se deu com favores dos governos da época, quando usurpou grande parte das terras dos descendentes de escravos, ou as tomou à força ou por processo de sedução, com falsas promessas. Para isso, a empresa contou até com oficial da ativa do Exército, o tenente Merçon, encarregado de dar a ordem de despejo em nome do regime militar. Um sistema de atemorização que surtiu os efeitos desejados, já que contava com a cobertura do governador do Estado na época, Arthur Carlos Gerhart dos Santos.
Além de terem perdido sua tradição e serem obrigados a viver em estado de miséria, devido à degradação ambiental promovida pela ex-Aracruz Celulose, os negros são vítimas constantes de violência da empresa. Sem qualquer punição.
A recuperação de parte do território – os quilombolas são donos de 50 mil hactares - é, portanto, a reparação de uma injustiça histórica, e já vem com décadas de atraso. Demora que tem custado muito caro aos negros.


Fonte: Século Diário

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